Síndrome Protocolo de Transplante de Microbiota Fecal


Conceitos Gerais

Alterações do microbioma intestinal após o transplante alogênico de células-tronco hematopoiéticas têm sido associadas a resultados adversos nos receptores, incluindo DECH intestinal. O transplante de microbiota fecal é uma intervenção com potencial para restaurar a diversidade saudável no microambiente intestinal em pacientes com DECH intestinal refratária a costicosteroides.

Uma proporção substancial de casos de infecção por Clostridioides difficile se repete após a conclusão do tratamento. Antibioticoterapia e as taxas de cura dos antibióticos diminuem a cada recorrência de infecção por Clostridioides difficile. O transplante de microbiota fecal (TMF) é uma terapia eficaz para a infecção recorrente, que de outra forma requer tratamento antibiótico prolongado ou indefinido.

Recentes séries de caso demonstram um potencial sucesso do uso de TMF para o tratamento de DECH Aguda intestinal refratária à corticoidoterapia. O conceito se basearia na regularização da microbiota intestinal com consequente diminuição dos antígenos expostos, que perpetuam a reação imune.

Diagnóstico

O diagnóstico da DECH refratária é clínico e usualmente ocorre após 7 dias de tratamento com corticosteroide a 2 mg/kg/dia sem resolução do quadro.

Para diagnóstico de infecção por Clostridioides difficile atualmente está disponível o teste rápido, realizado pelo laboratório de análises clínicas do HEG e o resultado é liberado após 1 hora da coleta, conforme protocolo para tratamento de diarreia por Clostridioides difficile.

Seleção do doador

O indivíduo doador pode ser um membro da família do paciente e que se enquadrenos seguintes critérios: não apresentar histórico de doença infecciosa (HIV, HBV, HCV, Tuberculose, Sífilis, Malária, Leishmaniose, Chagas, Dengue, Febre amarela, Zika, Chikungunya); não apresentar doença infecciosa em atividade no momento da doação (p. ex. gastroenteritçe, infecção respiratória viral, etc); não apresentar parasitose ou infecção intestinal (rotavirus, Giardia) nos últimos 6 meses; não ter recebido vacina com vírus vivo atenuado nos últimos 6 meses; não ter realizado o uso de antibiótico nos últimos 3 meses; não possuir histórico de diarreia crônica; não apresentar histórico de distúrbio imunológico incluindo doenças atópicas, incluindo eczema, asma, ou doenças eosinofílicas do trato gastrointestinal; não estar fazendo uso de agentes imunossupressores concomitantes; não ser receptor de transplante de órgão sólido ou células hematopoieticas; não ter recebido transfusão de hemoderivados nos últimos 12 meses; não apresentar história de doença inflamatória intestinal, constipação crônica, síndrome do intestino irritável; não apresentar histórico de malignidade (exceto câncer de pele não-melanoma); não ter viajado recentemente (últimos 6 meses) para áreas endêmicas de diarreia; não estar realizando terapia com agente antineoplásico; não apresentar sintomas gastrointestinais atuais (náuseas, vômitos, icterícia, dor abdominal, diarreia); não utilizar laxantes; não apresentar comportamentos de alto risco, incluindo sexo por drogas ou dinheiro, atividade homossexual masculina com múltiplos parceiros nos últimos 12 meses/6 meses, história de encarceramento, qualquer uso passado de drogas intravenosas ou cocaína intranasal; não ter realizado tatuagens e colocação de piercing nos últimos 6 meses; não apresentar acidente perfuro-cortante nos últimos 6 meses não apresentar diabetes mellitus tipo II ou síndrome metabólica; não apresentar obesidade (IMC > 30) ou desnutrição (IMC <18); não apresentar história de qualquer cirurgia abdominal, por exemplo, o bypass gástrico, ressecção intestinal, apendicectomia, colecistectomia, etc; não estar fazendo uso de probiótico ou qualquer outro medicamento específico para regular a digestão; não apresentar doença reumatológica, lúpus ou artrite reumatoide; não apresentar doença neurológica, ou do desenvolvimento neurológico como doenças neurodegenerativas incluindo autismo e doença de Parkinson; não apresentar distúrbio psiquiátrico grave; não apresentar erupção cutânea, sibilos na auscultação, febre, linfadenopatia, hepatomegalia ou qualquer estigmas de doença hepática, artrite, fraqueza muscular ou exame neurológico anormal; não ser profissional de saúde; não realizar uso de terapia crônica com inibidor de bomba de prótons (omeprazol, pantoprazol, lansoprazol,etc).

Triagem laboratorial

Recomenda-se a coleta dos seguintes exames do doador:

  • HIV;
  • HTLV;
  • Hepatite A;
  • Hepatite B;
  • Hepatite C;
  • Sífilis;
  • Lipidograma;
  • Proteina Total e Frações;
  • TGP, TGO;
  • Hemograma;
  • Bilirrubinas;
  • GGT;
  • Proteina C Reativa;
  • Parasitológico Direto;
  • Teste Rápido para Clostridioides difficile;
  • Coprocultura.

Processamento da amostra

  • Utilizar amostra fresca em até 6 horas;
  • Os procedimentos devem ser realizados com luvas e máscara;
  • Realizar manuseio em ambiente anaeróbio de preferência;
  • Amostra mínima de fezes: 30g; Amostra máxima: 100g;
  • Adicionar um volume 3-5 vezes NaCl 0,9% estéril;
  • Filtrar a solução final com gaze;
  • Acondicionar em frascos estéreis.

Preparo do receptor

  • Suspender antimicrobianos 24horas antes do procedimento.
  • Realizar o preparo para colonoscopia conforme protocolo institucional. Em pacientes com íleo grave, a preparação intestinal pode ser substituída por enemas ou pode ser omitida.

Realização do transplante de microbiota fecal

  • Realizar a infusão da amostra final por colonoscopia desde o cólon direito se possível.
  • Caso haja contraindicação para preparo de cólon ou realização de colonoscopia, avaliar infusão por endoscopia digestiva alta ou sonda enteral.
  • Manter o paciente em posição lateral por pelo menos 1 hora após o procedimento para facilitar a permanência do material infundido nas porções proximais do cólon.
  • Monitorar o paciente na sala de recuperação por no mínimo 2 horas após o procedimento.

Vigilância de efeitos adversos

Notificar quaisquer sintomas e sinais agudos ocorridos até 7 dias após a infusão da microbiota fecal.

Referências

KELLY, B. J.; TEBAS, P. Clinical Practice and Infrastructure Review of Fecal Microbiota Transplantation for Clostridium difficile Infection. Chest, v.153, n. 1, jan. 2018.

KIM, K.O., GLUCK, M. Fecal Microbiota Transplantation: An Update on Clinical Practice. Clin Endosc. 2019;52(2):137–143. doi:10.5946/ce.2019.009.

QI, X. et al. Treating Steroid Refractory Intestinal Acute Graft-vs.-Host Disease With Fecal Microbiota Transplantation: A Pilot Study. Front Immunol. 2018 Sep 25;9:2195. doi: 10.3389/fimmu.2018.02195.

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