Síndrome Infecção Primária de Corrente Sanguinea


Definição

A IPCS-CV é definida como uma bacteremia associada a sinais e sintomas de infecção em um paciente em uso de cateter venoso central. Há dois principais mecanismos fisiopatológicos distintos, a saber, 1) Colonização externa do cateter: relacionada à quebra de barreira durante a punção do acesso venoso central e/ou na troca do curativo estéril evoluindo com infecção nos primeiros 5 a 7 dias de cateter. O patógeno envolvido nesses casos é o que habita a microbiota da pele do paciente, especialmente Staphylococcus aureus e Estafilococo Não Produtor de Coagulase (ENPC). 2) Colonização intra-luminal: relacionado com o cuidado horizontal do cateter, mais precisamente com a contaminação do hub do cateter devido à inadequada manipulação e falha na higienização das mãos. A administração de medicamentos contaminados por bactérias/fungos pode ser a origem da colonização intra-luminal e é descrita como fonte comum de surtos em diversas publicações científicas.
Há suspeita clínica de IPCS-CVC quando um paciente em uso de cateter venoso central apresenta sinais clínicos e laboratoriais de infecção (p ex. febre, leucocitose) sem evidência de outro foco.

Conduta

Se o paciente não apresentar disfunções orgânicas (sepse), pode-se iniciar a investigação diagnóstica (coleta de hemoculturas periféricas e do cateter central, triagem infecciosa de outros focos) sem a introdução de antimicrobianos. Já em pacientes com sepse/choque séptico, deve-se ter como conduta a retirada do cateter venoso central (CVC) de curta permanência, coleta de hemoculturas e começo imediato de antimicrobianos. Se não for possível a retirada do CVC, coletar hemocultura do acesso venoso e mais duas amostras periféricas. Havendo um crescimento da amostra de sangue do cateter de, pelo menos, duas horas mais rápido do que a periférica, o foco provável é o cateter e este deve ser retirado o mais breve possível. Não é necessário que a coleta seja feita em vigência de febre. Os dois fatores mais influentes na sensibilidade e especificidade da hemocultura são: 1) Coleta adequada de volume (8-10ml) e 2) Assepsia prévia do local de punção (pele/hub) com clorexidina alcóolica.

Terapia Empírica

A terapia antimicrobiana deve ser iniciada de acordo com sinais de gravidade do paciente e individualizada com a flora local, contemplando os principais patógenos de cada Ala.

Recomendados o uso de Vancomicina e Cefepima em casos de IPCS com sepse e Vancomicina e Meropenem em pacientes com choque séptico.

Reavaliar a terapia após 48h do início. Se hemoculturas negativas e pacientes em curva de melhora, descalonar para Cefepima para um tempo sugerido de 5 dias.

Atentar para fatores de risco para candidemia: cirurgia recente, hemodiálise, Nutrição Parenteral, colonização por Candida, fístula gastrointestinal ativa. Para esses pacientes, avaliar inicio empírico de equinocandina

Autor e Data

Hugo Morales  Out/2018

Referências Bibliográficas

1. Guia de antimicrobianos: diretrizes de uso e prevenção de infecções / coordenadores Izelândia Veroneze, Célia Inês Burgardt, Janislei Giseli Dorociaki Stocco; Hugo Manuel Paz Morales. – 1. ed. Curitiba: Complexo Hospital de Clínicas da UFPR, 2016.
2. MERMEL, L. A.; RAAD, I. I.; ALLON, M.; RIJNDERS, BA. J.; BOUZA, E.; SHERERTZ, R. J.; CRAVEN, D. E.; FLYNN, P.; WARREN, D. K. Clinical Practice Guidelines for the Diagnosis and Management of Intravascular Catheter-Related Infection: 2009 Update by the Infectious Diseases Society of America. Clin Infect Dis, v. 49, n. 1, p. 1–45, 2009.

Antimicrobianos relacionadas


Cefepima
Meropenem
Micafungina
Vancomicina

Microorganismo relacionadas


Candida albicans
Enterobacter aerogenes
Enterococcus faecalis
Klebsiella pneumoniae
Staphylococcus Coagulase negative
Staphylococcus aureus